sexta-feira, 8 de junho de 2012

Um ciclo que nunca mais retorna

Lá vou eu mais um fim de semana, abrir o café cá da terra, na tentativa de juntar as pessoas para conversar um pouco.
Passei algum tempo à espera do primeiro senhor, O da cadeira de rodas que nao tem uma perna, mas que mesmo assim é mais mexido do que alguns e até mesmo com a idade que tem. Quando chega pede-me 50 "arrebuçédos" de mentol para a garganta, quando na verdade é apenas 50 centimos de rebuçados. Mas ele hoje não apareceu, constou-se que na semana passada foi para a frança porque não gostava nada de cá estar, mas com 83 anos, após estar pela primeira vez em França, passado 3 dias morreu, que destino ironico.
 Foi triste para mim feflectir sobre isso... "menos um cá na terra", Qualquer dia não há cá pessoas. 
O primeiro a chegar foi então o "velhote" sorridente que já passou por todos os pisos do Hospital de Castelo Branco, segundo o que ele diz, só lhe falta o piso -1 (morgue), lá me pediu um "Capuchito com esbuguélhas",  quer ele dizer com isto, um capuccino com adoçante, (porcausa do colestrol). Aproveitei e tirei um café para mim e sentei-me ao lado dele.
Ele hoje estava bem disposto e falou de tudo o que tinha para falar, desde as suas doenças, às historias de antigamente, "a tua avó sofreu muito,(...) e os teus tios eram muito reguilas,(...)tu andavas sempre descalça na rua a rebentar as bolhas do alcatrão,(...) tomei conta da tua mãe desde muito sedo e vivi e trabalhei para o teu avô mais de 20 anos". Passamos assim uma horita, até que veio um rebanho de gente, lá tive eu que deixar o imaginário e voltar para tráz do balcão.
Mas estou triste, está tudo a mudar. As pessoas da minha idade não têm a mesma vontade que eu em levantar a nossa aldeia para cima, e ficam o dia inteiro em casa. Nenhum de nós iremos ter o heroismo, as historias fantasticas e a vontade de lutar, que os nossos "avós" tiveram em tempo, já tenho medo de andar nas ruas à noite, tenho medo que mais alguém cá da terra "se vá embora". Os meus velhotes fazem tanta falta a mim!
Mas a vida é tão efemera  que não me posso dar ao luxo de pensar no que vai acontecer no futuro, tenho que disfrutar do que tenho agora, porque no fundo tenho sempre mais do que alguém, e tenho a sensação que as mentalidades vão mudar e os meus filhos, (tal como eu)  vão andar a jogar às escondidas no largo no teso, com mais uns tantos. E ainda irão valorizar a zona interior, especificamente as aldeias e a minha não vai cair no esquecimento, porque só dá valor, quem disfrutou das boas coisas que um lugar simples pode dar. O resto?... O resto vai continuar em casa, a imaginar uma vida cheia de futilidades e nem se vai aperceber do que perdeu.