terça-feira, 10 de abril de 2012

Fragilidade

Lá esta ela de mãos enlaçadas,  a mexer ligeiramente os lábios e de olhos cerrados. Como se estivesse a pedir algo a alguém.
Vestida de negro lá está ela, estática e concentrada.
 Por baixo de tanta roupa que veste, noto que tem muitas rugas, cada uma com a sua historia, cada uma com o seu sentimento, com a sua emoção, com a sua recordação.
Mas noto pela sua expressão e pelo seu jeito que tem uma ruga ainda maior, um vinco incorrigivel, uma mágoa do tamanho da sua idade.
Caramba!... O seu amor morreu e já não tem objectivos de vida.
Já tem os filhos e os netos criados, com os bisnetos à porta, mas o seu grande e único amor da sua vida morreu. O seu desleixe fez com que pensasse que por obra e graça de Deus é que conseguiria as coisas que queria e desejava. Mas pedia sempre algo que era impossível.
Esta senhora que vejo é a minha Avó, e o seu Amor o meu Avô.
Sinto-me arrasada por vê-la deste modo, por não saber como ajudar, a vê-la a recuar.
O seu luto fá-la ficar ainda mais triste.
Mas tenho a dizer que contudo, nunca nos desiludiu, faz tudo por nós. Se nós pedirmos algo e ela não tiver,  vai pedir emprestado a outrem para nos dar. Ama-nos tanto que acho que ainda está viva porque sabe que nos estamos cá. Se for preciso só come no final para ver se chega para todos.
E é por ela ser deste modo que se tornou tão mole, tão fraca.
Acho que herdei isso dela. Penso demasiado no bem dos outros e depois posso sofrer com isso.
Sou fraca...mas feliz. =)