quinta-feira, 19 de maio de 2011

Avô

Ainda me lembro.
Aquele dia de calor, misturado com uma aragem fria que vinha aliviar a minha dor e secar as minhas lágrimas.
Estavas no centro de tudo, tudo a olhar para ti e a relembrarem os bons momentos que tinham passado contigo.

Quando olhava para ti, lembrava-me das jantaradas que fazias no Natal, dos olhares que tu fazias que em vez de se penetrarem na minha face penetravam directamente no coração.
Aqueles dias em que trabalhavas na serração e lá estávamos nós, a cambada de cachopos a brincarem com carrinhos e a fazer espadas de madeira.

Já quando estavas na cama, lembro-me dos abraços que te dava e tu fechavas os olhos serradamente com um sorriso nos lábios.
Acabou, tudo isso acabou.
Eu sei que não estavas a sofrer porque tu amavas tanto a tua família e a tua família te amava tanto, que a dor passava e assim completávamo-nos na perfeição.
Lembro-me da última vez que chorastes, antes de morreres, não, não foi de dor, estava eu ao teu lado a cantar e a tocar concertina para ti, sei que gostavas muito.
Mas acabou!
Naquele primeiro fim-de-semana de Maio de 2008, no dia da Mãe, no dia das “mães” que tu tanto gostavas, levámos-te até ao teu novo lugar.
Destapei-te a cara pálida e fria que tinhas adquirido, tinhas um olhar sereno, dei-te uma festinha e um beijo na testa.
Tenho muitas saudades tuas, foste tu que encheste os pilares da nossa família, é graças a ti que somos muito felizes.

Amo-te Avô, sei que me acompanhas todos os dias.